Atividade ainda forte indica que Fed promoverá nota alta de 0,75% na semana que vem; efeito da política monetária ainda não é evidente.


Embora o crescimento de 2,6% do Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos no terceiro trimestre de 2022 tenha representado uma quebra na sequência negativa (nos primeiro e segundo trimestres, a economia americana retraiu 1,6% e 0,6%, respectivamente), a expectativa dos analistas é que vai acontecer uma desaceleração daqui para frente. O efeito da política contracionista do Federal Reserve ainda não está refletidos nos números, argumentam os especialistas, e vai haver necessidade de novas altas de juros.
No terceiro trimestre, o destaque foi para as exportações, afirma Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos. Ele também cita a alta nos gastos dos consumidores, desta vez com outros serviços, como saúde, e não em bens como automóveis ou com alimentos e bebidas.
Cruz também comenta que os gastos do governo subiram, puxados pelos gastos com defesa, em virtude das ajudas à Ucrânia por conta da invasão russa. “O ponto negativo foi na habitação. Todos os indicadores estão apontando para o desaquecimento do mercado imobiliário”, analisa.
O estrategista vê nesse desempenho o efeito da política de juros altos do Fomc (o comitê de política monetária dos EUA) e destaca que o setor representa cerca de 1/3 da inflação como um todo. Com esse quadro, Cruz acredita que o Fed vai elevar suas taxas em 0,75% na reunião da semana que vem, reduzindo o ritmo para 50 pontos-base no encontro de dezembro. “Para fevereiro, a discussão é se vem mais meio ponto. Acredito que sim e a taxa vai chegar a 5%”, prevê.
Rafaela Vitória, economista chefe do Banco Inter, afirma que o dado de hoje sobre o PIB dos EUA encerra a discussão se já havia recessão nos país, uma vez que o consumo desacelerou, mas ainda ficou acima da expectativa, em 1,4%. Ela também acredita que o Fed deve seguir o caminho de mais uma alta de 75 p.b. “A inflação ainda é problema maior que a atividade”, escreveu em sua conta no Twitter.
Francisco Nobre, economista da XP, também destaca as expansões observadas nas despesas de consumo pessoal, de 1,4% na comparação trimestral, do consumo do governo (+2,4%, na mesma comparação) e exportações (+14,4%). Além disso, as importações, que são redutoras do PIB, caíram 6,9% no trimestre.
Mas o desempenho deve ter sido momentâneo, avalia Nobre. “Acreditamos que a economia dos EUA desacelerará agressivamente daqui para frente. Indicadores de alta frequência sugerem que a atividade econômica está enfraquecendo consideravelmente neste momento, especialmente no setor de habitação”, alerta.
Segundo o economista da XP, o ritmo em que o Fomc está apertando as taxas de juros provará ser um erro de política, pois o efeito do aperto que já foi entregue ainda não se tornou evidente e provavelmente será excessivo. “Nossos modelos sugerem que a economia dos EUA crescerá 1,8% em 2022 e 1,3% em 2023”, prevê.
Fonte:https://www.infomoney.com.br/economia/pib-forte-dos-eua-no-3-tri-reforca-que-fed-sera-mais-contracionista-dizem-analistas/